PECA 2019

NOSSA 4a. EDIÇÃO MAS APENAS O 1o. RETORNO EM UMA CIDADE

O PECA 2019 carregou em sua realização um simbolismo muito importante: completar 15 anos de edições anuais consecutivas! Isso já era motivos mais que suficientes para querermos estar junto com a moçada mais uma vez. Mas havia outro fator que nos encantava: presenciar e fotografar um retorno à mesma cidade de uma edição anterior. Todos os 3 PECAs que havíamos trabalhado anteriormente (2013 São Sebastião, 2017 Limeira e 2018 Araraquara) eram primeiros anos de visita às cidades. Queríamos muito vivenciar a experiência de ver o PECA retornando para continuar algo iniciado 1 ano antes, e nos atentarmos também nisso, nesses potenciais reencontros, para buscar o olhar de registro fotográfico.

Quando nossos contatos com a nova Comissão Organizadora se estabeleceram, começamos a pensar uma proposta de trabalho mais uma vez fazendo um exercício interno de avaliação do trabalho nas edições anteriores, e de cruzar os olhares do PECA com outro marco importante aqui da nossa trajetória: o Depois da Curva e muito do que ele motivou (principalmente de 2015 para frente). Desenhamos uma linha do tempo com esses tópicos principais e identificamos as características do nosso trabalho nas 3 edições de PECA registradas até então. Tanto características na forma de fazer, de produzir em campo; quanto de editar, finalizar e entregar. Um resgate dos caminhos percorridos e uma auto-análise crítica com o máximo de isenção possível. O que será que nosso trabalho estava tocando ? Qual o lugar e posicionamento do que estávamos fazendo como fotografia documental com pessoas tão mais novas em formação profissional para atendimentos de saúde, com pessoas de outras localidades (e realidades) distantes das nossas ? Foi nesse momento que decidimos olhar para trás antes de querer olhar para frente mais uma vez.

Assim, em janeiro de 2019 embarcamos mais uma vez para fotografar o PECA, igualmente felizes e comprometidos com essa nova oportunidade.

Além do registro necessário para atender as necessidades do PECA como cliente contratante, ou seja, documentar todo o processo de atendimento com a chegada dos pacientes, a triagem que encaminha para as especialidades de saúde, as cirurgias, as consultas, os exames laboratoriais; além de tudo isso, estávamos atentos para captar as nuances que acontecem nas entrelinhas e disponível para que nossa fotografia fosse apenas complementar à narrativas diretas das pessoas que produzem e fazem um PECA acontecer: alunos/as, professores/as, e população/pacientes. Estávamos ainda mais cientes de que parte do nosso trabalho ali era descrever em imagens um processo de trabalho feito com muito afinco por gente jovem em plena formação profissional.

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SIMBOLISMO, POESIA E IMAGINAÇÃO  ___  É de um simbolismo sutil e poético que o atendimento da Oftalmologia tenha sido realizado na biblioteca da escola que recebeu o PECA 2019. Ler é conhecer o mundo através das palavras; é saúde para o conhecimento e a imaginação.

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FONOAUDIOLOGIA COM SERESTA  ___  Nos atendimentos da Fonoaudiologia esse lance de “ouvir o paciente” é literal. Vale até pedir uma palhinha de uma boa seresta para prestar bastante atenção na dicção… ou simplesmente para deixar o paciente mais a vontade para relatar com exatidão o que sente.

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O MENINO E O MUNDO  ___  Logo no 1o. dia de atendimento aberto à população o PECA 2019 em Araraquara recebeu um paciente muito especial, o menino Mateus. Estava acompanhado de seu avô, o Sr. Luis, mas era ele mesmo que precisava passar em consulta. Muito comunicativo e expressivo, tanto nas conversas quanto no sorriso, Mateus mostrou-se também muito sério e concentrado quando relatava, ele mesmo, suas queixas de saúde nas especialidades pelas quais passou.   |||   Um pouco mais cedo naquele mesmo dia havíamos pedido para o Vice-Diretor da E.E. Profa. Maria Isabel Rodrigues Orso nos avisar, caso visse, algum aluno da escola aparecesse no PECA para passar em consulta ou para acompanhar algum parente. Queríamos bater um papo informal com alunos/as da escola, dentro do nosso ambiente PECA. E qual não foi nossa surpresa ao sermos avisados que o menino Mateus era estudante do 8o. ano Fundamental lá !   |||   Antes de ir embora com a família, Mateus disse ter gostado muito dos atendimentos e que esperava melhorar (de suas queixas de saúde) para conseguir estudar direitinho no ano letivo que iria começar em breve, e para frequentar a escola nos fins de semana para jogar ping pong (a escola fica aberta para as famílias do bairro terem opção de lazer). Contou também que sua matéria preferida na escola é Geografia, e que gosta de estudar direitinho.   |||   Sua simpatia e bom papo mostraram isso mesmo: que baita menino legal ! Vai Mateus, que o mundo é todo seu !

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ESTREANTE E VETERANA  ___  Nos corredores do PECA 2019, batemos um papo com duas alunas do 6o. ano da Medicina com experiências muito distintas em relação ao Programa Expedições: uma, veterana de várias edições (inclusive já tendo sido integrante de uma Comissão Organizadora); outra, uma estreante chegando para seu 1o. PECA em um momento tão marcante da formação acadêmica. Duas experiências distintas que contribuem tanto, ambas, cada uma à sua maneira (e também juntas!) para tornar o atendimento tão significativo. Com a palavra, Marina Riechelman (a veterana) e Beatriz Riscala (a estreante):   __BEATRIZ__  O PECA é uma mistura de uma experiência acadêmica com uma experiência pessoal. E da vivência do médico como ser humano. A experiência acadêmica eu construí de outras formas, na faculdade, estudando ou em outras experiências mesmo. Vir aqui depois de 6 anos é justamente buscar um pouco da experiência pessoal. E isso eu acho que o PECA tem de diferencial para qualquer outra atividade acadêmica da Santa Casa.   __MARINA__ O PECA sempre contribuiu muito na minha formação, a cada vez que participei. Na parte da Medicina em si, na relação com quem está fazendo junto, uns querendo aprender, outros ensinar, e todo mundo se ajuda; na relação muito verdadeira e próxima com os pacientes, de saber seja da sua saúde ou da pessoa em si, em conversas que podem ir o dia inteiro. Tudo muito genuíno, sem interesses secundários. O PECA sempre contribui para ter perspectiva de achar um propósito no que eu faço, entende ?  ___  E ambas concordam que nesse momento da formação, 6o. ano, o contato com alunos mais novos, do 1o. ou 2o. ano, ajuda a resgatar um pouco dos sentimentos de quando se é calouro. Que dizem respeito ao sonho de ser médico, de ajudar, de aprender com outro, de enxergar o outro ser humano. Sentimentos que comumente são ditos nobres (da profissão), e que ao longo do tempo da faculdade se perdem um pouco. (…) o contato com os mais novos é… renovador, acho que a palavra que de define bem é essa. Você relembra das coisas simples e importantes que você sonhava quando entrou na faculdade, conclui a Beatriz.

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DE DENTRO PARA FORA ___ Visita Domiciliar é aquele momento que o PECA pede licença para entrar na casa do paciente que não pode ir até nossa base de atendimento. Oportunidade para entender muito do contexto social e familiar que diz respeito ao estado de saúde do paciente. E, quando possível, para ver que pequenos hábitos cotidianos influenciam muito o andamentos do tratamentos. Mas, principalmente, para ver que cuidado familiar é essencial para o bem estar físico e emocional do paciente acamado. As equipes multidisciplinares que atendem as VDs do PECA estão sempre dispostas a passar o tempo que for necessário para um atendimento baseado em observação, perguntas, procedimentos, e muita conversa orientativa. Agradecemos a todos os pacientes e suas famílias que nos recebem em suas residências com tanto carinho e confiança – inclusive pela presença consentida de câmeras para fotografar e filmar com total respeito à dignidade e ao direito à individualidade de cada pessoa. Para quem gosta de conhecer histórias inspiradoras nesse tipo de atendimento, deixamos como sugestão o livro “Branco Vivo” do escritor Antonio Lino. Lançado em 2017 pela Editora Elefante, ele é resultado do olhar do autor sobre atendimentos domiciliares realizados em 9 localidades ao redor de todo Brasil, incluindo aldeias indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos rurais e periferias urbanas. Olhar complementado por fotografias de Araquém Alcântara. Uma ode à humanidade.

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OLHO NO OLHO! ___ Tanta gente, tanta coisa acontecendo! Tantos encontros, tantas conversas. Alunos conhecendo a vida de seus pacientes enquanto aguardam vez de atendimento. Ou compartilhando silêncios igualmente importantes, que também indicam confiança e bem estar mútuo ali lado a lado. Paredes como apoio para anotações nos prontuários de pacientes; cadeiras (ou mesmo o chão) para um descanso breve; mesas sendo usadas por 2 ou 3 que compartilham uma rápida aula ou explicação teórica de um caso recém atendido. Circular pelos corredores do PECA é presenciar que existe ali, ao mesmo tempo, profissionalismo, vontade de aprender e ensinar, companheirismo, amizade. Circular pelos corredores do PECA é uma grande lição de quão potente é o resultado da ação de pessoas que estão mobilizadas, juntas, por um objetivo único: o bem comum de todos os envolvidos. Que lindo !

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AMOR E AFETO COMO RESISTÊNCIA E FORÇA  ___  Realizar atendimentos de saúde do jeito que o PECA faz, algumas vezes abrem janelas de oportunidade de aprendizado que vão muito além de questões clínicas. Como muitos alunos e pacientes relatam, o contato humano é muito marcante, e legado tanto para uma parte quanto para outra: alunos aprendem como é lidar com pessoas, suas histórias e acontecimentos que desencadeiam um determinada situação clínica; pacientes vêem que atendimento médico humanizado é sim possível, e que suas próprias ações de cuidados cotidianos podem ser muito determinantes para prevenções e tratamentos, em muitos casos. Em outros, um atendimento de saúde bem realizado pode ser determinante também para processos de fortalecimento psicológico individuais, que podem estar relacionados a quem somos (para nós mesmo), como o outro nos vê, e as dinâmicas sociais nesses tempos que demandam muita construção e fortalecimento coletivo. O que ouvimos da Tatiana, paciente PECA 2019, deixou uma mensagem muito linda, de muita força de vontade e presença com seus familiares. Seus filhos, enquanto ela estava nas salas das especialidades, marcaram presença com seu companheirismo, educação e simpatia. Perguntada sobre qual era o maior valor de vida que gostaria de passar para seus filhos, Tatiana disse que fala para eles “que precisam ser bem unidos, um pelo outro. Amar um ao outro. Porque o amor está se acabando, né ? E ter uma família perto da gente é a coisa mais importante do mundo. Se algum dia eles precisarem de alguém vai ser a família que vai poder ajudar. Sabe, eu não fui criada pela minha família, com meu pai e minha mãe do jeito que eu queria. Mas eu tive pessoas muito maravilhosas que passaram pela minha vida, e me ensinaram a ter amor pela família. Então é isso que eu quero passar para eles. Que a gente tem que se amar, porque a gente precisa um do outro.” Ela acredita muito que ter tido 3 filhos meninos foi fundamental para perceber, entender e aceitar que as pessoas são diferentes, que nem todo mundo é igual e quer “fazer as mesmas coisas”. E que isso vai muito do jeito que elas são criadas, do amor que elas vão ter na família. “Então é muito importante amor de pai e mãe. Muito importante, demais! E vale a pena ter. Eu amo meus filhos, demais demais.”

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MAQUINISTAS DE ROTINAS SAUDÁVEIS E DO AFETO ___ Mislene e Nilton. Ela em 2018 pedalava todo dia para ir e voltar do trabalho. Era da equipe operacional em uma escola pública num bairro nas bordas da cidade. Fizemos uma conta aproximada e descobrimos que ela pedalava cerca de 200 km por mês só nesse trajeto. Mislene é muito consciente dos benefícios de saúde que seu meio de transporte preferido proporciona. Mas o que mais lhe dava gosto mesmo era a autonomia que tinha para ir e voltar do trabalho sem depender de nada ou ninguém; uma sensação de liberdade que poucas vezes tinha experimentado na vida antes de começar a pedalar comutando. Em 2019 ela contou que mudou de serviço e a bicicleta já não atendia seu deslocamento. Nilton trabalha na rede ferroviária de Araraquara, é maquinista. Já morou e trabalhou em Brumadinho, onde, na manhã que conversamos, tinha caído a barragem. Conhecia gente que morreu. A família procura ter hábitos saudáveis de alimentação e exercício mas tem tido dificuldade de colocar isso na rotina. Cultivam boas relações de convívio pois acreditam que afeto também é saúde.

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CASAL 20 DO PECA ___ D. Maria do Carmo e Sr. Nelson, simpáticos e bons de papo. Cartas entre amigos…

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O QUE É MARCANTE, FICA ___ Olhar, escutar, estar atento. Estar presente ao momento, olhar ao redor, perceber o afeto e enxergar também a si mesmo. Daqueles trampos que reverberam para a vida!

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[ A ] | PECA: o que é, o que realiza [ sobre ]
#1 | 2013, São Sebastião | SP [ relato fotográfico ]
#2 | 2017, Limeira | SP [ relato fotográfico ]
#3 | 2018, Araraquara | SP [ relato fotográfico ]

Por enquanto viemos até aqui mas vai saber para onde mais seguiremos…
Obrigado PECA !

 


PECA é um projeto de extensão acadêmica dos alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – FCMSCSP

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