AQUELE JARDIM

SE AQUELE JARDIM FALASSE

6 anos de parceria fotografando na Fundação Ema Klabin

Se tem uma relação com cliente que dá muito gosto aqui na F14 Fotografia é essa com a Fundação Ema Klabin. Na real mesmo, temos é uma relação de parceria, de confiança e construção que vai além da execução-edição-entrega de fotografias encomendadas. Afinal de contas, além das coberturas realizadas, a Fundação tem estado presente em outros momentos importantes aqui na nossa trajetória.

Foi lá, por exemplo, que o nosso Depois da Curva realizou uma das atividades abertas após o retorno da pernada pelo continente sul-americano entre dez/14 – mar/15; são de lá alguns dos competentes produtores em quem nos espelhamos para, às vezes, produzir aventuras diferentes por aqui; a inspiração que dá ao ver as equipes construindo o trabalho na Fundação ao longo do tempo, etapa por etapa; as pessoas queridas e profissionais competentes que se tornaram parceiros da F14 em outros projetos fora da Fundação; sem contar que é incrível poder sentar na grama dentro de um projeto paisagístico de Burle Marx, para leituras quaisquer ou para ouvir música num sábado a tarde.

Nesses quase 10 anos de F14 Fotografia temos muito prazer em olhar para trás e ver que a FEGK já faz parte de mais da metade desse período. E para celebrar tudo isso, resolvemos vasculhar os HDs e recuperar algumas coisas para mostrar e contar.

Acompanhe pelos temas que separamos :

#1   |   música
#2   |   retratos
#3   |   jardim e visitação
#4   |   eventos especiais


#1  |  MÚSICA

Em diversos momentos da trajetória como F14 Fotografia, principalmente nos primeiros 3 ou 4 anos de atuação, estivemos muito dedicados a cobrir shows e produzir material fotográfico para projetos musicais, atuando especialmente com parte da cena de música instrumental em São Paulo. A FEGK está presente nessa caminhada através dos registros feitos nos 2 anos em que cobrimos semanalmente toda a extensa programação de apresentações musicais da instituição.

Metade do ano já ia passando em 2013 quando recebemos telefonema de um dos produtores de lá, contando que buscavam um fotógrafo parceiro. Nosso portfólio tinha sido bem avaliado, e as experiências que tínhamos tido na música até então, contaram vários pontos para decidirem convidar para um café e explicar o que precisavam.

Era um momento importante aqui na F14. Algumas semanas antes havia sido finalizada uma linda parceria de trabalho que tinha durado 3 anos, com um coletivo paulistano de música instrumental. Em termos de liberar agenda representava apenas 1 dia livre a mais na semana, mas em termos de disposição e disponibilidade, representava muito! Passamos a poder dedicar muito mais tempo e concentração para todas as outras etapas do trabalho e da vida.

Queríamos (e precisávamos) dar uns passos adiante na trajetória de trabalhos; aquele ano de 2013 era fundamental para consolidar o que já tínhamos realizado nos anos anteriores; abrir caminhos para novos passos. O convite da FEGK chegou no momento exato!

Passaríamos a ser a fotografia fixa-oficial na cobertura de shows da casa, semanalmente nas tardes de sábado.

 


#2  |  RETRATOS

A casa onde funciona a Fundação é um casarão antigo e lindo, cravado no meio do Jardim Europa [ acesse aqui o PDF da publicação da FEGK que conta um pouco da história do bairro, o projeto arquitetônico para construção da casa e do paisagismo feito pelo Burle Marx ]. As apresentações musicais acontecem num pequeno palco/tablado que pode ser visto tanto da área coberta onde cadeiras são dispostas para a platéia, quanto de qualquer ponto do incrível jardim.

Nossa cobertura fotográfica teria por principais objetivos registrar a programação semanal para finalidades de reporte à lei de incentivo à Cultura da qual fazia parte, e para incrementar o acervo de documentação das atividades produzidas e realizadas pela própria instituição.

Em termos de fotografia, isso significava que as apresentações musicais eram, em si, o objeto do registro que deveríamos fazer. Mas era oportuno que o material também mostrasse o que estivesse acontecendo ao redor, e que formasse um conjunto de imagens do clima de realização de um evento musical. A estrutura do local, a montagem e preparativos técnicos, a platéia assistindo, as interações do público com os músicos e musicistas e, em geral, a presença de público em visita à casa-museu.

Em resumo: iniciar esse trabalho com/para a FEGK representou a melhor oportunidade de construir um processo de observação contínua. Mais que fotografar cenas avulsas ou cumprir listas de itens num briefing burocrático, teríamos tempo e repetição de observação num mesmo local, num mesmo contexto de evento, para descobrir/elaborar linhas narrativas que pudessem contar histórias através de imagens.

Foi mais ou menos assim que, num primeiro momento, tivemos ideia de fotografar um retrato dos músicos, reunidos como grupo/banda, em algum lugar da casa, fora do palco. Foto posada mesmo, olhando direto para a câmera. Uma imagem que representasse que eles também eram visitantes na casa. Visitantes especiais. Visitantes da dona Ema. Uma homenagem ao próprio acervo fotográfico dela, que contém diversas imagens das ocasiões em que recebia amigos, em fotos bem intimistas tiradas em algum ambiente afetivo da casa.

 


#3 | JARDIM E VISITAÇÃO

Esse compromisso de semanalmente buscar olhar a casa de uma maneira diferente para fazer retratos dos músicos/musicistas nos levou a ficar (ainda) mais atentos ao entorno durante as apresentações musicais. Não só para complementar o registro com imagens de contexto do ambiente onde estava sendo realizado o evento musical (local, público, as experiências do expectadores com a casa, etc). Mas também para percebermos e estarmos abertos as sensibilidades invisíveis que ajudam fotógrafos a entregar a um cliente imagens que dêem conta de mostrar qual era clima do evento.

Ser organizado e procurar ter sempre uma boa disponibilidade de tempo para chegar com calma ao local, olhar, passear no jardim, entrar na casa, conversar com as equipes de monitoria. Coisas que são essenciais para planejar um trabalho, ainda mais num lugar onde se vai repetidas vezes. Não ter preguiça (ou desinteresse) de olhar para o que já se conhece; sempre pode ter alguma novidade. Na cena ou dentro de si mesmo. A fotografia começa a ser feita bem antes do clique. E ela é, antes de tudo, sentir.

Aos poucos fomos nos dando conta que muitos frequentadores da FEGK percebem e usufruem aquele espaço como um verdadeiro oásis dentro da cidade.

Trata-se de um lugar privado, sem dúvida; mas que, tal qual estar na rua ou em determinados ambientes públicos, convida, estimula e se coloca disponível, de muitas formas, para que os/as frequentadores tenham momentos de absoluta liberdade. Seja na possibilidade de momentos de conexão consigo, como numa leitura deitados na grama; seja no convite ao conhecimento e à reflexão sobre temas que tocam nossa contemporaneidade nas palestras e cursos oferecidos regularmente; seja no estímulo a conhecer culturas do mundo através do acervo de peças colecionadas pela ex-moradora da casa ou pela variedade de estilos da programação musical.

Naquela rua famosa por ser um dos locais onde motoristas desfilam pomposos com carros possantes fazendo arder os ouvidos com roncos de motor, é a casa com seu lindo jardim e a potência dos encontros que ali acontecem, que despertam, isso sim, as maiores sensações de liberdade.

Nenéns dão seus primeiros passos. Crianças aprimoram na maciez da grama suas técnicas de cambalhotas, estrelas e piruetas. Jovens casais contam segredos ao pé do ouvido. Adultos sentam nos degraus das escadas para conversar. Senhores e senhorinhas caminham ao redor do lago das carpas.

Sapatos e meias devidamente deixados de lado, durante 1h e meia aquele jardim ganha vida própria, inebriado pela música ao vivo e pela circulação dos visitantes.

Boa tarde! Bem vindos à Fundação Ema Klabin. Obrigado pela presença e bom show a todos.


#4 | EVENTOS ESPECIAIS, CONSTRUÇÃO DE UM TRABALHO

Ao longo do tempo passamos a ser chamados para fotografar outros eventos organizados pelos diferentes núcleos da Fundação Ema Klabin. Aberturas de exposições, palestras temáticas e papos com artistas compartilhando seus processos de criação e trabalho. E o ano de 2017 foi especialmente marcante nesse quesito. Fomos convidados para cobrir 2 eventos produzidos pela casa que marcavam momentos significativos na trajetória de produções e proposições culturais da Fundação.

Um deles foi a primeira participação da casa-museu na tradicional Virada Cultural promovida anualmente na cidade no mês de maio. E não teve miséria não ! As equipes se desdobraram para produzir um evento muito representativo, com diversas atrações ao longo do dia inteiro. Inclusive agilizando todo o trâmite burocrático junto à Prefeitura e órgãos municipais para fechar à circulação de veículos o quarteirão onde está localizada a instituição. Sem carros, para pessoas. Com música e arte; na rua, aberta e viva !

No outro evento já era dezembro do mesmo ano, 2017. A Fundação celebrava 10 anos aberta à visitação e lançava um livro sobre a coleção Ema Klabin, e fomos chamados para fotografar esse momento. Aparentemente um evento comum, como tantos outros lançamentos de livros, mas com alguns toques que faziam dele um evento especial. Autores/as presentes, autógrafos, visita à casa e ao acervo, música ao vivo e muita conexão entre as equipes produtoras. O evento marcou também o encerramento dos trabalhos daquele ano. Estávamos lá registrando os abraços, os afetos, os agradecimentos e a cumplicidade de quem, há anos, todos os dias, desenvolve um trabalho que preza por sensibilidade, contexto histórico, muita pesquisa e cuidados de vários tipos.

 

Como vemos esse caminho

Da nossa posição de observadores externos com o privilégio de “acessos internos” (que se dá pela execução dos serviços prestados) sentimos que é cheio de nuances o trabalho desenvolvido por uma instituição com a FEGK: (i) por lidarem com acervo de altíssimo valor histórico e cultural, composto por peças originais oriundas de diversas partes do mundo, e tê-lo como o ponto de partida para fazer valer o sentido de sua existência como instituição: a atração de visitantes interessados em conhecer e relacionar-se com esse acervo, num país/sociedade que, sabemos bem, tem sérias dificuldades em muito do que se refere à preservação de sua história, reconhecimento da cultura e da arte para crescimento intelectual individual e coletivo; (ii) por estar presente em uma região da cidade reconhecida tanto por sua estrutura privilegiada, quanto por vezes criticada por ser altamente descolada da realidade da maioria dos demais bairros (e do próprio país); reforçando, assim, a responsabilidade de atrair de visitantes de diversas partes da cidade, e não só quem vem de um pequeno raio do entorno. E tantas outras nuances que o convívio e o envolvimento de trabalho revelam e, de certa forma, convidam à reflexão nas próprias proposições de seu desenvolvimento; (iii) por ser composta por equipes jovens, abertas e diversas, lidando com inúmeras questões trazidas por um acervo histórico, e com a importantíssima responsabilidade de trazê-lo, com reverência e/ou crítica, ao debate de questões do nosso tempo atual.

É percebendo e sentindo essas nuances que aprendemos, aqui na F14, a reconhecer ainda mais a importância da dedicação de todos que fazem (ou já fizeram) parte das equipes/núcleos da casa. Percebendo que é na construção da conversa, no compartilhamento de conhecimento e no afeto de trabalho entre os indivíduos, que se dá a construção do posicionamento institucional e de tantas realizações culturais.

Sabendo que tem a hora de ouvir e tem a hora de falar. E a hora da espera.
Afinal de contas, tempo está diretamente relacionado ao entendimento do que é um acervo, e de como se constrói um a partir de individualidades que compõem um conjunto maior.

Só temos a agradecer !

 


 

R. Portugal, 43 – Jardim Europa, São Paulo / SP

www.emaklabin.org.br

 

São Paulo, julho de 2019